Saturday, September 8, 2012

CARTA AO PAIS

Vida em comunidade, na fazenda Projeto Panya, em Chiang Mai, na Tailândia.
Na Panya, fomos introduzidos à PERMACULTURA


Este post é a adaptação de uma carta aos nossos Pais em resposta a uma oferta de apoio para iniciarmos um projeto de permacultura no Brasil, ato de generosidade e valorização da Vida e da Terra. Dividir este conteúdo é uma tentativa de estímulo a interação e integração das famílias no nosso País e também um convite ao entendimento desta grande idéia que é a Permacultura.

*** Carta aos Pais ***

"Queridos Pais,

Ficamos muito surpresos e comovidíssimos com a proposta de vocês. Não temos palavras para agradecer e honrar mais esta imensa demonstração de de amor, confiança, generosidade e tantas outras coisas que continuamente fluem do coração de vocês para os seus.

É claro que consideramos qualquer idéia. Na verdade , não temos nada fixo na cabeça; nem isso ou aquilo. Ao longo da jornada (chamada Vida) e principalmente depois de deixar o mundo corporativo, temos coletado e lapidado muitos princípios. E cuidadosamente, selecionado aqueles que mais fazem sentido ao alinhar-se com o principio maior de ser e fazer feliz.

Hoje, temos uma figura muito mais sólida de como trabalhar neste sentido, e essa coleção de idéias chamada "permacultura" parece juntar muitas peças úteis. Nada disso é novo, pelo contrário. Permacultura parece um grande mosaico de sabedorias muito antigas – como respeito e interação com a Mãe Natureza -, trabalhando em conjunto com o que há de novo, revelado nos últimos 500 anos. Durante um curso de permacultura, várias vezes lembrei dos vovôs e vovós. Provavelmente, se estivessem vendo essa coisa chamada “Permacultura”, eles diriam algo como "o ho noh, mas eu fiz isso minha vida inteira!"

Antes de conhecer permacultura vinhamos chamando esse mosaico de conhecimentos de “todos os aspectos da vida”, o que julgamos ser tudo o que é Social, Ambiental e Espiritual. E com um detalhe muito importante que nos têm sido sistematicamente negligenciado nos sistemas de educação de massa, mídia, etc: tudo isso (é) integrado.

Viajando, o entendimento de como o mundo funciona aumenta a cada dia. Lemos muito e conversamos com muita gente diferente. Isso facilita planejar contra-medidas. Mas apesar de entender o quão nefasto é o sistema em que estamos emaranhados, ficamos cada vez menos inclinados a protestar mas em ajudar a espalhar as boas notícias, através do exemplo. Menos protesto, mais exemplo.

Isso já começou com o nosso projeto de desaceleração que, acima de tudo, é uma jornada de aprendizagem. Deixamos espontaneamente o mundo corporativo para estudar, viver com mais simplicidade, e contribuir menos com atividades que provocam deterioração ambiental, social e espiritual. Dar exemplo em vez de protestar. Menos distribuição de peixe e mais lições de pesca, para quem preferir.

Nossa idéia de fazenda é na verdade uma continuação desse projeto de vida. Mas antes de ter bagagem para levar isso adiante, estivemos nestes últimos dois anos, viajando e participando de inúmeras atividades de voluntariado, estudos e projetos ambientais, história, convivência com tribos e povos isolados; tudo isso para “aprender a pescar”. Foi quando encontramos a Permacultura, entre outros tantos conceitos que não tinham se revelado aos nossos tão ocupados olhos, até então.

As pessoas que acordaram a mais tempo e já estão engajadas nesse tipo de ação estão chamando isso de Revolução Silenciosa (Silent Revolution). O peak oil já está acontecendo, o Planeta – incluindo a humanidade - não aguenta mais a própria humanidade e o capitalismo, que nunca foi justo – nem pretende ser - e vinha adoecendo um limitado número de países. Com a globalização, o mundo inteiro adoeceu de vez. Nós vimos isso. Agora, a opção é encontrar alternativas. E elas existem aos milhões!

Permacultura é uma delas. É um estilo de vida e não simplesmente uma técnica de produção. Propõe uma empolgante mudança nos nossos hábitos de consumo e nos recompensa com verdadeira Liberdade! Nas palavras de David Holmgren, “passamos de consumidores irresponsáveis para produtores responsáveis”. Voltamos a ser parte de uma comunidade genuína, que busca ser auto-sustentável. Opera-se com orçamentos pequenos, prática e fomento de fair-trade (escambo, troca, economia local, economia b, etc). E o melhor de tudo: Permite uma vida em abundância de comida e saúde! Pode parecer utopia. Mas nós acreditamos porque vimos. Há milhões de pessoas vivendo desta forma, na maioria dos países do mundo!

Pessoas, comunidades compraram ou tomaram posse de terras, terrenos, prédios abandonados - que ninguém queria pois eram inférteis, improdutivos ou economicamente inviáveis - e transformaram em vilas auto-sustentáveis, coletando energia do sol, vento e chuvas, usando esta energia de forma eficiente e local e, estimulando a Natureza, produzem comida abundante para todos. Em muitos casos também provêem educação independente para suas crianças, jovens e adultos! Tudo isso sem banco, sem cartão de crédito e sem ajuda do governo. Nem é necessário mencionar que esses projetos também operam com praticamente nenhuma dependência de empresas, doação e com pouco dinheiro inicial. E acreditem, até sobra algum nestes projetos, apesar de lucro não ser o principal objetivo. Africa, Cuba, Índia e BRASIL são campeões em permacultura comunitária. Tem muita gente praticando isso. Até na Europa! 

Tivemos uma palestra com um casal de uma vila que segue uma estratégia chamada transition town (vilas de transição) que é fantástica. Este projeto se chama Grow Heathrow.

Começaram num estacionamento abandonado nas barbas do aeroporto de Heathrow, em Londres, um dos maiores do mundo. Hoje, produzem tudo o que precisam para mais ou menos cinco famílias. Não tem conta de luz, água, gás ou financiamentos para pagar. Os maiores problemas do projeto são com a Lei, que marginalizou as pessoas que produzem sua própria comida ou usam água da chuva.

Que ironia. Não poder usar água da chuva! Quanto tempo vai levar para proibirem as pessoas de respirar o ar da atmosfera?

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Sei que isso soa piada, ridículo, improvável. Exatamente como soava vender ÁGUA engarrafada a 50 anos atrás. No entanto, hoje, principalmente na Ásia, água é quase um luxo. Água para beber nas cidades é obtida somente em garrafas plásticas descartáveis. UM COLOSSAL ABSURDO...

Na maioria dos países da Asia que estivemos, toda a água para beber
tem que ser comprada. A água oferecida pelo abastecimento público
não é potável e não há fontes públicas onde as pessoas possam encher suas garrafas. Não tem bebedouros nas ESCOLAS PÚBLICAS!!!!!
Na China, conversamos com jovens sobre o assunto e simplesmente nos disseram
que "comprar água é parte da cultura".
Pergunto: desde quando? Cultura ou um grande negócio sem escrúpulos?

Felizmente, há muitos bons exemplos.  Esta estação de água potável
em Istambul, na Turquia
mostra que distribuir água potável é perfeitamente possível.
Água é VIDA, não um negócio.
PARABÉNS À TURQUIA!

Para evitar esse e outros absurdos, mas de forma alegre e positiva, queremos dar continuidade ao projeto de desaceleração, adicionando o conceito de "protestar menos, dar mais exemplo". Pretendemos viajar bastante no Brasil e conhecer o que já está sendo feito nesse sentido. Aprender em casa também vai ser muito bom, e necessário. E aqui podemos dizer: qualquer plano, auxilio, idéia que sejam educativas e coerentes com estes princípios que temos falado, são e serão consideradas, com certeza!

Muito, muito obrigado a vocês, nossos queridos Pais!"

***Fim da carta***




Nota a todos os nobres leitores: Gostaria de pedir aos que já estejam envolvidos com Eco-vilas, Transition Towns, Fair Trade, LETS, Permacultura em geral que façam contato conosco. Gostaríamos de começar a conhecer projetos em andamento no Brasil.

Muito obrigado a todos!

Francis e Raquel

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