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Vida em comunidade, na fazenda Projeto Panya, em Chiang Mai, na Tailândia. Na Panya, fomos introduzidos à PERMACULTURA |
Este post é a adaptação
de uma carta aos nossos Pais em resposta a uma oferta de apoio para
iniciarmos um projeto de permacultura no Brasil, ato de generosidade
e valorização da Vida e da Terra. Dividir este conteúdo é uma
tentativa de estímulo a interação e integração das famílias no
nosso País e também um convite ao entendimento desta grande idéia
que é a Permacultura.
*** Carta aos Pais ***
"Queridos Pais,
Ficamos muito surpresos e
comovidíssimos com a proposta de vocês. Não temos palavras para
agradecer e honrar mais esta imensa demonstração de de amor,
confiança, generosidade e tantas outras coisas que continuamente
fluem do coração de vocês para os seus.
É claro que consideramos
qualquer idéia. Na verdade , não temos nada fixo na cabeça; nem
isso ou aquilo. Ao longo da jornada (chamada Vida) e principalmente
depois de deixar o mundo corporativo, temos coletado e lapidado
muitos princípios. E cuidadosamente, selecionado aqueles que
mais fazem sentido ao alinhar-se com o principio maior de ser e
fazer feliz.
Hoje, temos uma figura
muito mais sólida de como trabalhar neste sentido, e essa coleção
de idéias chamada "permacultura" parece juntar muitas
peças úteis. Nada disso é novo, pelo contrário. Permacultura
parece um grande mosaico de sabedorias muito antigas – como
respeito e interação com a Mãe Natureza -, trabalhando em conjunto
com o que há de novo, revelado nos últimos 500 anos. Durante um
curso de permacultura, várias vezes lembrei dos vovôs e vovós.
Provavelmente, se estivessem vendo essa coisa chamada “Permacultura”,
eles diriam algo como "o ho noh, mas eu fiz isso minha vida
inteira!"
Antes de conhecer
permacultura vinhamos chamando esse mosaico de conhecimentos de
“todos os aspectos da vida”, o que julgamos ser tudo o que é Social,
Ambiental e Espiritual. E com um detalhe muito importante que nos têm
sido sistematicamente negligenciado nos sistemas de educação de
massa, mídia, etc: tudo isso (é) integrado.
Viajando, o entendimento
de como o mundo funciona aumenta a cada dia. Lemos muito e
conversamos com muita gente diferente. Isso facilita planejar
contra-medidas. Mas apesar de entender o quão nefasto é o sistema
em que estamos emaranhados, ficamos cada vez menos inclinados a
protestar mas em ajudar a espalhar as boas notícias, através
do exemplo. Menos protesto, mais exemplo.
Isso já começou com o
nosso projeto de desaceleração que, acima de tudo, é uma jornada
de aprendizagem. Deixamos espontaneamente o mundo corporativo
para estudar, viver com mais simplicidade, e contribuir menos com
atividades que provocam deterioração ambiental, social e
espiritual. Dar exemplo em vez de protestar. Menos distribuição de
peixe e mais lições de pesca, para quem preferir.
Nossa idéia de fazenda é
na verdade uma continuação desse projeto de vida. Mas antes de ter
bagagem para levar isso adiante, estivemos nestes últimos
dois anos, viajando e participando de inúmeras atividades de
voluntariado, estudos e projetos ambientais, história, convivência
com tribos e povos isolados; tudo isso para “aprender a pescar”.
Foi quando encontramos a Permacultura, entre outros tantos conceitos
que não tinham se revelado aos nossos tão ocupados olhos,
até então.
As pessoas que acordaram
a mais tempo e já estão engajadas nesse tipo de ação estão
chamando isso de Revolução Silenciosa (Silent Revolution). O peak oil já está acontecendo,
o Planeta – incluindo a humanidade - não aguenta mais a própria
humanidade e o capitalismo, que nunca foi justo – nem
pretende ser - e vinha adoecendo um limitado número de
países. Com a globalização, o mundo inteiro adoeceu de vez. Nós
vimos isso. Agora, a opção é encontrar alternativas. E elas
existem aos milhões!
Permacultura é uma
delas. É um estilo de vida e não simplesmente uma técnica de
produção. Propõe uma empolgante mudança nos nossos hábitos de
consumo e nos recompensa com verdadeira Liberdade! Nas palavras de
David Holmgren, “passamos de consumidores irresponsáveis para
produtores responsáveis”. Voltamos a ser parte de uma comunidade
genuína, que busca ser auto-sustentável. Opera-se com orçamentos
pequenos, prática e fomento de fair-trade (escambo, troca,
economia local, economia b, etc). E o melhor de tudo: Permite uma
vida em abundância de comida e saúde! Pode parecer utopia. Mas nós
acreditamos porque vimos. Há milhões de pessoas vivendo
desta forma, na maioria dos países do mundo!
Pessoas, comunidades compraram ou
tomaram posse de terras, terrenos, prédios abandonados - que ninguém
queria pois eram inférteis, improdutivos ou economicamente inviáveis
- e transformaram em vilas auto-sustentáveis, coletando energia do
sol, vento e chuvas, usando esta energia de forma eficiente e local
e, estimulando a Natureza, produzem comida abundante para todos. Em
muitos casos também provêem educação independente para
suas crianças, jovens e adultos! Tudo isso sem banco, sem
cartão de crédito e sem ajuda do governo. Nem
é necessário mencionar que esses projetos também operam com
praticamente nenhuma dependência de empresas, doação e com
pouco dinheiro inicial. E acreditem, até sobra algum nestes projetos,
apesar de lucro não ser o principal objetivo. Africa, Cuba, Índia e
BRASIL são campeões em permacultura comunitária. Tem muita
gente praticando isso. Até na Europa!
Tivemos uma palestra com
um casal de uma vila que segue uma estratégia chamada transition
town (vilas de transição)
que é fantástica. Este projeto se chama Grow Heathrow.
Começaram num
estacionamento abandonado nas barbas do aeroporto de Heathrow, em
Londres, um dos maiores do mundo. Hoje, produzem tudo o que precisam
para mais ou menos cinco famílias. Não tem conta de luz, água, gás
ou financiamentos para pagar. Os maiores problemas do projeto são
com a Lei, que marginalizou as pessoas que produzem sua
própria comida ou usam água da chuva.
Que ironia. Não poder usar
água da chuva! Quanto tempo vai levar
para proibirem as pessoas de respirar o ar da atmosfera?
***************
“Compre
aqui sua garrafa de … ar
Nestlè Air!
Engarrafado
em Potrópolis, filtrado, 200 bar.
Liquidação:
compre 300 litros e leve 5 grátis”.
***************
***************
Ar
Perrier
700
ml
20
euros
très chic
***************
Sei que isso soa piada,
ridículo, improvável. Exatamente como soava vender ÁGUA
engarrafada a 50 anos atrás. No entanto, hoje, principalmente na
Ásia, água é quase um luxo. Água para beber nas
cidades é obtida somente em garrafas plásticas descartáveis.
UM COLOSSAL ABSURDO...
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Felizmente, há muitos bons exemplos. Esta estação de água potável em Istambul, na Turquia mostra que distribuir água potável é perfeitamente possível. Água é VIDA, não um negócio. PARABÉNS À TURQUIA! |
Para evitar esse e outros
absurdos, mas de forma alegre e positiva, queremos dar continuidade ao projeto de desaceleração, adicionando o conceito de "protestar
menos, dar mais exemplo". Pretendemos viajar bastante no Brasil
e conhecer o que já está sendo feito nesse sentido. Aprender em
casa também vai ser muito bom, e necessário. E aqui podemos dizer:
qualquer plano, auxilio, idéia que sejam educativas e coerentes com
estes princípios que temos falado, são e serão consideradas, com
certeza!
Muito, muito obrigado a
vocês, nossos queridos Pais!"
***Fim da carta***
Nota a todos os nobres
leitores: Gostaria de pedir aos que já estejam envolvidos com
Eco-vilas, Transition Towns, Fair Trade, LETS, Permacultura em geral
que façam contato conosco. Gostaríamos de começar a conhecer
projetos em andamento no Brasil.
Muito obrigado a todos!
Francis e Raquel
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