É o AQUECIMENTO GLOBAL uma falácia? ... continuação...


Continuação...



Bem, depois de 21 meses de viagem, cerca de 15 países visitados, muitas observações, muitos livros, coleta de informação e de reflexão, fomos expostos a muitos conhecimentos marcantes que anteriormente eram ignorados por nós.



Afinal, depois desta longa etapa de aprendizado e observação, a nossa conclusão é que o planeta Terra está realmente sofrendo com a atividade humana. Além deste fato, o mais nos surpreendeu foi a conclusão - agora quase óbvia - de que muito mais do que o Planeta, quem está de fato ameaçada é a Humanidade.



Alguns dos fatos mais relevantes que levam à esta interpretação estão relacionadas a debates científicos atuais. Aprendemos que não há apenas alguns milhares de cientistas que pesquisam sobre as questões relacionadas as alterações climáticas mas, possivelmente, milhões. Há também um grande número de ONGs atuando ou sendo criadas, profundamente engajadas.



Temos ouvido muitas pessoas sobre o assunto, incluindo doutores. Lemos muito conteúdo, livros e artigos. Assistimos a um variedade de documentários. Pudemos aí observar que hoje há pelo menos um quase consenso na comunidade científica - verdes e céticos: o Planeta de fato experimenta uma alteração abrupta nos padrões climáticos globais.



Existe também um amplo acordo sobre as conseqüências destas transformações serem iminentes. Por exemplo, verdes e céticos concordam que geleiras estão derretendo a taxas crescentes e imprevisíveis, onde quer que elas estejam.



É muito interessante também o fenômeno de polarização entre as comunidades científicas engajadas nas questões ambientais: os verdes entendem estar o aquecimento global de fato associado as atividades humanas e os céticos afirmam que - com um claro viés para queimar petróleo até a última gota - o aquecimento global é apenas um fenômeno natural.



Há extensas argumentações sobre a influência das atividades humanas nas alterações climáticas. Os céticos propõe que os estudos e projeções dos verdes não podem ser considerados conclusivos. Argumentam que tais investigações são baseadas em análises produzidas por grupos de cientistas desempregados após a guerra fria, especializados em simulação de cenários de guerra, o que os induziria a, naturalmente, gerar proposições catastróficas. 



Fica a dúvida sobre quem/qual instituição estaria tão benevolamente interessada em patrocinar um programa de recolocação para tais cientistas.



É também comum ouvir que o aquecimento global é propaganda da indústria de tecnologias verdes (ou alternativas, como é também conhecida), na tentativa de ganhar os mercados atualmente dominados pela jurássica - mas ainda não extinta - indústria de óleo e gás.



Reforçando a visão cética, os argumentos verdes foram enfraquecidos pelo incidente conhecido como climategate quando, algumas semanas antes da conferência de Copenhague, um grande número de e-mails da Unidade de Pesquisa Climática (CRU), ligada a Universidade Norte-Americana de East Anglia, foram extraídos por hackers. Alguns destes e-mails teriam evidências de que os estudos e dados sobre aquecimento global seriam uma conspiração científica.



Em resposta ao alegado climategate, a Associação Norte-Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), a Sociedade Norte-Americana de Meteorologia (AMS) e a União dos Cientistas Conscientes* (Union of Concerned Scientists - UCS) afirmaram que "há um consenso científico de que a temperatura média na superfície da Terra vem crescendo por décadas." AAAS afirmou também que "com base em múltiplas linhas de evidência científica, as alterações climática globais causadas por atividades humanas de fato ocorrem e ... são uma ameaça crescente para a sociedade."  Continua…





* Tradução não literal, livremente adaptada ao contexto pelos autores.





Quando observamos o comportamento das mídias de massa em relação as questões ambientais, percebemos que há uma desconecção acentuada com os fatos. Mesmo quando o assunto é abordado abertamente, há distorções, devemos dizer, bizarras. Como exemplo, assistimos recentemente o filme de Hollywood "O Dia Depois de Amanhã", de Rolland Emmerich. A produção sugere um possível desastre global, onde as correntes do Atlântico Norte cessariam, provocando um colapso climático no mesmo hemisfério.



Entretanto, o sensacionalismo extremo e os acontecimentos bizarros do filme, como a queda da temperatura em 10º C por segundo nos levou a questionar se o filme de fato quer trazer à luz algum tipo de consciência. Somos levados a crer que, ao contrário, Hollywood pretende minar o debate, subjetivamente sugerindo que o aquecimento global é apenas mais uma ficção-científica exagerada, entre milhares. Esta estratégia levaria o público de volta a apatia, já que "esse aquecimento global é mais uma falácia entre tantas".



Bem, depois de dois anos de observações e reflexões, o que ficou definitivamente claro é que há sim uma grande cadeia de eventos associadas a elevação da temperatura na Terra, e indubitavelmente, as atividades humana contribuem - em escala significativa- com tais fatos.



Entretanto, mais relevante que as alterações climáticas por si só, a grande mudança em nossa perspectiva é que, muito mais que o meio ambiente em si, o que de fato vem sistematicamente sucumbindo a agressão das atividades humanas no Planeta é a própria Humanidade. O colapso social e espiritual de quase todas as sociedades, culturas - em escala global - é dantesco!





O Fim do Mundo está próximo?



Não acreditamos que mudanças climáticas - ou seja lá nome que se dê ao que ocorre no Planeta - provocariam o colapso instantâneo da Terra, ou da vida que nela habita. Nem que os grupos econômicos mundiais implodiriam em um dia ou em um mês, por causa do peak oil. Tampouco o clima ficaria caótico em 24h em escala global. Não é assim.



As conseqüências do estilo de vida dominante, baseado em energia fóssil abundante e barata, desperdício titânico, mercado globalizado, crescimento contínuo de PIBS, etc., não provocarão o fim instantâneo do mundo Não.



O que de fato podemos afirmar é que, em muitas circunstâncias, em muitas massas urbanas, em muitas culturas, em muitas regiões, o fim do mundo já aconteceu!



Hein?



Vamos exercer a nossa capacidade empática e observar realidades à partir de diferentes pontos de vista.



Enquanto ... nossa casa está seca e confortável, temos fome e resolvemos o problema comprando comida no mercado, ficamos doentes e temos um plano de saúde para visitar um hospital, queremos viajar, compramos um bilhete de avião e partimos, temos filhos e o dinheiro necessário para pagar a escola privada, não sabemos exatamente qual é o propósito de nosso emprego, mas este nos paga o suficiente para viver em um apartamento bom e ter dois carros em uma cidade grande..., o nosso mundo parece ser realmente próspero e não vislumbramos qualquer tipo de fim. Pelo menos não tão cedo.



Não obstante, não muito longe dos confortáveis blocos sociais acima, realidades diferentes coexistem, e as perspetivas podem variar radicalmente quando... a hipoteca da casa se estende por mais de uma geração, um próximo querido tenha perdido a vida em um acidente de carro banal, se perde 2 horas para chegar ao trabalho e mais 2 para voltar para casa todos os dias, quando chove este tempo aumenta para 4 horas - a cidade está inundada -, dois carros já foram perdidos e não cobertos pelo seguro, pois um submergiu na garagem inundada e o outro foi levado pelo ex-cônjuge no divórcio porque - afinal - casamento é mais um contrato do que uma união, se descobre que seu próprio grupo étnico foi reduzido para 0,1% depois que as Grandes Navegações iniciaram - e ainda por cima, ensinam (ainda!) na escola que estes genocídios foram "descobertas" (Argh!) -, se estuda uma fantástica cultura milenar e se aprende que a mesma foi destruída em apenas duas gerações, logo depois que a TV surgiu, não se sabe quem é que, na verdade, acumula riqueza às custas do trabalho árduo das pessoas comuns, se têm câncer por conta de uma vida respirando ar poluído, ingerindo involuntariamente agrotóxicos e fumando cigarros legalmente vendidos e amplamente anunciados, não se tem idéia sobre que tipo de tóxicos ou modificações genéticas não testadas estão presentes nos alimentos comprados no supermercado, metade da família se afogou ou morreu por falta de água potável nas enchentes do Katrina, nunca encontra paz de espírito, sente que não existe liberdade, para nada.



Para essas pessoas, mesmo sem que percebam, muito aspectos da vida já estão em colapso. A própria razão para se estar vivo parece não existir. A percepção de que um "fim do mundo" possa estar próximo não é tão vaga. Permeia a vida cotidiana, localmente, onde as pessoas vivem.



Entender que as dificuldades das pessoas são locais e não globais é chave! Apesar disso, as causas do podem ser globais, o que não pode ser negligenciado.



O aquecimento global provavelmente nunca vai gerar um tsunami gigantesco que destruiria a ilha de Manhattan, o Rio de Janeiro e Qufu, na China, que fica a 200 metros acima do nível do mar - apesar da altitude, alguns moradores têm medo de tsunamis.



Porém, em alguns lugares, o aquecimento global já é o fim do mundo. Um país inteiro chamado Ilhas Marshall, no Pacífico Sul, praticamente não tem mais água doce e seus campos de cultivo estão ficando salobros por conta das marés altas, que a cada ano ficam mais altas. Para eles isto já é o fim do mundo. Não importa se as geleiras estão derretendo na Argentina, se a taxa de CO2 é muito alta na atmosfera. Eles não têm mais um lugar para viver, sendo a causa de tudo isso as atividades humanas ou não. Não importa. Eles não tem para onde correr.



O mercado globalizado é o fim do mundo para os agricultores familiares e para os produtores locais de praticamente qualquer produto. Isso aconteceu. As antigas culturas baseadas em agricultura familiar, muito próximo ao que conhecemos hoje como sustentável, foram dizimadas pela prodigiosa mecanização da agricultura (green revolution - isso mesmo, os fenômenos de mecanização, monocultura, toxicalização, fertilização artificial da agricultura são conhecidos como "revolução verde"). A maioria destas pessoas, que eram qualificadas no que faziam hoje são marginalizados, tendo que viver em subúrbios. Perderam a sua terra local e seu direito de prosperar em sua antiga terra, em geral herdada de seus ancestrais. Eles não perderam uma terra global, e sim a sua terra local. Foi o fim do seu mundo. Localmente.



Eu Francis, conheço este tipo de realidade que foi (e é) muito comum no meu estado, o Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. Quando eu estava no nível secundário, estudando para ser Técnico Agricultura, alguns professores mais lúcidos e conscientes tentavam revelar a importância da agricultura familiar e de subsistência - assim chamada na época. Num esforço quase solitário, promoviam o entusiasmo dos jovens estudantes para a agricultura sustentável, que acreditavam deveria florescer sempre por razões sociais, ecológicas e até mesmo econômicas. Ao mesmo tempo, entretanto, a agenda educacional predominante inoculavam nossas mentes juvenis com os milagres da mecanização, adubação sintética, controle químico de pragas, variedades trangênicas, etc.



Hoje, vemos claramente as conseqüências de tudo isso. Por exemplo, o polêmico Movimento dos Sem Terra (MST) - dizem alguns que está hoje desviado de sua finalidade original - foi, contudo, na sua maioria formado por prósperos agricultores familiares seduzidos sem piedade pela idéia da revolução verde. Uma ou duas gerações depois de serem envolvidos em dívidas impagáveis, se encontraram perdidos num mundo desconhecido de terra improdutiva, fracionada, tendo que entregar seu chão, herdado por inúmeras gerações, a um banco que não sabe plantar. Cultura, tradição, conhecimento, herança, família, tudo destruído. Para estes, é o fim do mundo.



Se há uma coisa que aprendemos é que, em se tratando de gente, nunca podemos generalizar. À luz disto, olhemos para exemplos como Iraque e Afeganistão. Com muita certeza, a grande maioria das populações destes países é constituída de pessoas boas, em busca de paz e felicidade. Com a guerra às armas de destruição em massa, deflagrada por uma horda de seres inescrupulosos viciados em poder - e seus mercenários associados - uma legião de Iraquianos e Afegãos completamente inocentes vive um fim do mundo todos os dias. Vale lembrar que esta guerra é também financiada pela dependência do mundo civilizado ao petróleo.



Mais uma vez, as questões globais, como a guerra do Iraque, tem consequências locais, devastando a vida dos inocentes Iraquianos e Afegãos.



Escalando a discussão das consequências locais para um fim do mundo global, catastrófico, sabemos das profecias sobre "eventos" que ocorreriam em Dezembro de 2012, coincidindo com o fim do calendário Maia. Sabemos pouco sobre isso. Mas estaria mais relacionado ao início de uma nova era - por conta de uma configuração astronômica inédita - do que com o fim do mundo. Poderíamos dizer que seria o fim de uma era, e não do mundo.



Por outro lado, seria (é!) tolice - e até irresponsável - acreditar que se pode continuar vivendo com base num sistema econômico que depende de crescimento infinito num Planeta de recurso finitos. Fazendo isso, podemos ver com facilidade que rapidamente estamos construindo o fim do mundo, o fim dos recursos, dos sistemas reguladores ambientais, enfim, das condições de habitabilidade do Planeta.



Ainda com relação ao tema "calendários", recentemente estivemos em contato com estudos sobre as origens do calendário Gregoriano - que usamos no Brasil e na maioria dos países ocidentais - e pudemos entender um pouco sobre a utilização do mesmo. Se foi implementado pelo Papa Gregorio com a intenção de confundir e desarmonizar, não podemos afirmar.



Mas o fato é que este calendário, de 12 meses de durações distintas (?!) não tem relação com ciclos naturais. Basicamente, um ano tem 13 ciclos lunares** (não 12) de 28 dias cada (apenas Fevereiro no calendário gregoriano tem 28). Seguindo o gregoriano, nós terráqueos, vivemos literalmente fora de fase com os ciclos naturais em que estamos inseridos. Qual a necessidade de viver fora de fase com a Natureza? Seria esse um dos fatores que nos levaram a tamanha irresponsabilidade com os sistemas de Gaia?





Interrelações e interdependência



"Qualquer tolo inteligente pode fazer coisas maiores, mais complexas e mais violentas. É preciso um toque de gênio - e muita coragem - para se mover na direção oposta."

Albert Einstein



Um grande amigo inglês nos ensinou uma gíria usada em sua região, na Grã-bretanha, que achamos interessante: Se alguém está tendo um momento feliz, curtindo alguma coisa sossegadamente, está tendo uma "bolha" (having a bubble). Talvez essa gíria expresse uma percepção popular disseminada de que não há muito mais prazer verdadeiro fora, no mundo externo, mas pelo contrário, realização é mais facilmente encontrada dentro de nós mesmos.



Considerando o Dhamma, os ensinamentos de Buddha, podemos também aprender que felicidade está dentro de nós mesmos, através do caminho central, do equilíbrio (the middle way). O budismo entende que as respostas e a paz verdadeira existem dentro de cada indivíduo, em uma espécie de bolha que somos. O Buddha Iluminado descobriu isto através de longa e intensa meditação.



Mesmo se considerarmos tudo isto como verdadeiro, antes da Iluminação, nós, o seres Humanos encarnados não vivemos em uma bolha!



Talvez, o mundialmente propagado conceito de globalização, exatamente aquele patrocinado pelos capitalistas em defesa do "livre mercado", pode nos ajudar a entender a óbvia relação entre todos os sistemas naturais e (uau!) os seres humanos (pausa para um desabafo: mesmo vivendo em sociedades de massas irracionais dominadas, todos nós deveríamos ser aptos a compreender, pelo menos, um pouco sobre a nossa interdependência com o mundo). O mesmo conceito de interdependência complexa que se aplica para os mercados globais de ações (bolsas de valores) e preços de commodities faz-se aplicar para nossas ações como indivíduos.



Alguns exemplos e ilustrações de inter-relações e/ou interdependência:



A reunião que mudou o mundo:

Um homem, em uma reunião com executivos da IBM, impregnado com a falácia dominante do livre-mercado, disse-lhes que sua empresa (um pequeno grupo de ambiciosos jovens cidadãos dos EUA) desenvolvera um sistema operacional chamado "DOS", capaz de operar seus computadores - naquele momento gigantescos dinossauros cibernéticos impensáveis para uso pessoal - o que não era verdade no dia em que a reunião aconteceu. Os cabeças da IBM compraram a idéia (1). A ação daquele único indivíduo, hoje o bem conhecido Bill Gates, que era de fato ambicioso mas não tinha idéia das conseqüências de sua ação, mudou a forma como o mundo via a computação e, como conseqüência, o comportamento das sociedades no mundo inteiro, provando assim, a interligação global das sociedades e seus agentes.



A poluição que atravessa os mares:

Visitamos algumas ilhas muito remotas velejando pelo Pacífico Sul. Em uma delas, chamada Sorlen - muito isolada mesmo - pertencente aos Estados Federados da Micronésia, no interior do País-estado Yap, no atol Ulithi, vive apenas um homem, que se apresentou como Luciano. Ele herdou a ilha do seu pai, que está sepultado ao lado de sua cabana, muito humilde. O Luciano produz quase tudo o que come. Obtém muitos produtos do côco, que é abundante na ilha. Até cerveja ele produz, um fermentado da floração do coqueiro que chama de tuba. Tem alguns gatos e cachorros com ele. Os cães - que também comem côco - pescam nos recifes em volta da ilha. Segundo o Luciano, eles dão um jeito de encurralar os peixes que vem comer corais ou crustáceos na maré baixa e suprem, desta forma, a necessidade de proteínas. Às vezes, até voltam com um pequeno tubarão, conta ele. A ilha fica à cerca de 2.500 quilômetros do Japão e 9.800 quilômetros da costa oeste dos EUA. Em suas belas praias de areias muito brancas, há toneladas de plástico, originalmente recipientes de produtos químicos, detergentes, água e refrigerantes. Encontramos lá também muito material de pesca, de construção e centenas de pés sandálias, sempre sem o par, é claro. É desnecessário dizer que este homem, o Luciano, não é o responsável pela terrível situação da sua própria praia. Este lixo chega lá depois de flutuar por - talvez - anos. Os rótulos legíveis que encontramos nas embalagens mostram que foram originadas em muitos lugares do mundo. Constamos que muitas foram produzidas principalmente nos EUA, Tailândia, Japão, China e Austrália. Isso significa que não importa onde o indivíduo/consumidor está. Seus atos locais de compra e descarte podem estar globalmente relacionados com a poluição local que chega em uma praia, em algum canto do mundo e, como neste caso, na ilha do Luciano: Sorlen.



As consequências da demanda inconsciente:

Quase todos os envolvidos nas sociedades modernas que têm emprego e trabalha seguindo o calendário gregoriano (postulado pelo Vaticano) aguarda ansiosamente pelos finais-de-semana e feriados prolongados do ano para viajar, curtir e relaxar com amigos e familiares. À primeira vista isto é normal e não causa qualquer problema.



Mas o desejo coletivo de viajar ao mesmo tempo causa, em muitos lugares, engarrafamentos insuportáveis. Movendo-se muito lentamente durante muitas e muitas horas nestas filas infames, os motoristas e passageiros tendem a culpar governos e instituições pela "falta de infra-estrutura" e, é claro, passam a exigir melhores e maiores (gigantes, eu diria) estradas, highways, pontes, túneis, etc. Enfim, asfalto, asfalto e mais asfalto. Uma consequência direta desta demanda por infra-estrutura acaba sendo que, sedento por votos e poder, os políticos e os governos tendem a providenciar estas estradas gigantes, pontes, etc, após a submersão do Estado em insanos empréstimos que vão, por certo, demandar mais impostos. Políticos e Governos provavelmente sabem das terríveis conseqüências de tais projetos para o ambiente e para o bolso do contribuinte. Mas se esforçam para realizá-los assim mesmo, mesmo que os sistemas ambientais e sociais sejam claramente degradados, pois lhes é claro que "quem vai pagar são os mesmos que estão exigindo [as obras]". Depois de construídas, provavelmente estas estradas serão sub-utilizadas na maior parte do tempo exceto em vésperas e depois de feriados.



Isto ilustra a correlação entre os desejos simples das pessoas comuns, suas demandas e o que, afinal, catalisam grandes empreendimentos, muitas vezes seguidos por desastres sociais e ambientais nos locais onde são realizados. Apesar de tudo isso, quando as instituições comprometidas com análises prévias sobre os impactos destas obras realizam seu trabalho são frequentemente acusadas - até pelo cidadão comum beneficiado por elas - de "comprometer o progresso". Lamentável, mas ainda parece ser retrógrado discutir as consequências do tal progresso antes de acontecerem desastres.


Pergunta: Quais as alternativas para, por exemplo, não precisarmos construir mais estradas mesmo com o aumento da população?


Há com certeza inúmeras alternativas, e, no Brasil, a criatividade pode ajudar muito, desde que a consciência exista. Por exemplo, por que não começar a procurar por uma nova ocupação que siga um calendário alternativo ou bem flexível?



Milhões de outros exemplos de interrelação dos nossos atos e consequências podem ser descritos. De fato, para cada ato humano, haverá consequências. E eu não encorajaria ninguém a acreditar que o mundo em que vivemos é resultado de fatores aleatórios.



Mas agir, demandar, desperdiçar, consumir sem qualquer reflexão continua sendo comum. É intrigante o que leva a nós, humanos, agir sem avaliar as consequências de nossas ações. Entender as fundações desta disfunção mental não é, de maneira alguma, foco deste que escreve.



Àqueles que se interessarem, há uma densa variedade de publicações sobre o assunto, de fontes multidisciplinares como antropologia, arqueologia, psicologia, sociologia, geopolítica, psiquiatria, neurologia, genética, teologia, etc.. Entretanto, à propósito desta análise - ainda que superficial -, os efeitos deste autismo coletivo são, falta de reflexão ou conhecimento. Ou ainda, talvez, simples egoísmo (ausência de empatia). E é interessante como este último - o egoísmo - pode muito rapidamente causar impacto direto ao indivíduo - dito - egoísta.



Mais diretamente, Richard Heinberg, o autor de The Party's Over (A Festa Acabou) e fundador do Post Carbon Institute (Instituto Pós-carbono) , traz luz ao debate "verdes versus céticos". Ele afirma que "... Nós esperamos muito tempo para desenvolver uma forma alternativa [de energia]... Mesmo todos esses recursos de energia alternativa [sendo desenvolvidos atualmente] sejam aplicados simultaneamente não proverão energia suficiente para a sociedade industrial da maneira que estamos acostumados aos combustíveis fósseis. As pessoas têm que entender que criamos um modo de vida que é fundamentalmente insustentável. E isso não quer dizer que seja ecologicamente irresponsável. Isso significa, simplesmente, que ele não vai continuar". (http://www.postcarbon.org).



"NÓS" e "ELES"



É difícil falar de tudo o que está acima. Temos tentado desenvolver uma visão otimista da vida. O nosso objetivo é compartilhar experiências agradáveis e positividade. Aprender a conexão da alegria de viver e a frugalidade. Mas tudo o descrito acima não soa exatamente isso, sabemos. Nos faz até, às vezes, nos sentir um pouco culpados. Mas somente otimismo não seria realista, certo?



Além disso, haverá sempre as ameaças que nós, como indivíduos, não temos controle algum. Para entender isso, podemos nos perguntar: quem são os que fazem o dano real em nossas sociedades e planeta?



Poderíamos dizer que são, por exemplo, as corporações, os bancos, os governos, as igrejas... A maioria destas entidades não cansam de dar provas que orquestram, de fato, a maioria das catástrofes humanas que estamos experimentando. Estratagemas tais como incorporações enormes, monopólios, controle global de sementes e alimentos (vide o patenteamento de sementes!), desastres ambientais e externalização de custos.




Um exemplo clássico de externalização de custos pode ser o que o "livre mercado" opera é a exportação para reciclagem. Uma grande empresa, que deseja manter a boa imagem de "verde", incentivadora da tal reciclagem, alardeia que recicla todos os seus dejetos. Na verdade, faz ainda "melhor" do que isso. Transporta tudo até a Índia (isso mesmo, Índia) e lá, com toda a sua benevolência, opera uma estação de reciclagem, o que ainda promove o desenvolvimento econômico daquele país!



O fato é que, recolher, reciclar (de fato) no seu país é muito caro. Então, a solução barata é enviar LIXO, provavelmente sem condição alguma de real reciclagem, para um lugar onde as leis ainda não são tão eficazes contra este tipo de exploração. Lá, onde ninguém vai para saber se a reciclagem ocorre de fato, o lixo é simplesmente amontoado ou queimado, gerando poluição extraordinária no local de destino. Assim, o "custo" de reciclar, que seria alto no país "A" é externalizado para a Índia, que acaba absorvendo todos os custos ambientais, sociais e espirituais de ver suas cidades e vilas tomadas por tais dejetos.



Esse é um exemplo icônico de externalização. Entretanto, o Capitalismo e seus braços tem se especializado pesadamente em sofisticar o conceito de externalização de modo que, apenas mentes conscientes e treinadas, podem identificar tais estratégias. E mais, as mídias de massa são ostensivamente utilizadas para mascarar e iludir todos os tipos de públicos para que não percebam ou reajam as externalizações em curso.



Nossa primeira reação ao ler uma histórias como do lixo exportado tende a ser de impotência.



"Eles são gigantes e nós, apenas um grão de areia na praia. Simples pequenos consumidores, empregados. Não podemos fazer nada. Alguém tem que parar isso!"



Mas ATENÇÃO!



Quando dissemos "ELES" ou, "ALGUÉM" tem que parar isso, estamos fazendo nada menos do eles. Estamos EXTERNALIZANDO!



Nós literalmente delegamos a responsabilidade de volta para eles ou para outra entidade, outro grupo. Ironicamente, muitas vezes nós mesmos trabalhamos para eles. Nós extraímos nosso salário trabalhando para (talvez) Monsanto! No frigir dos ovos, é assim mesmo. Precisamos de dinheiro para comida, casa, carros, educação, informática, saúde, seguros, entretenimento e aposentadoria. Sem falar nas nossas carreiras e auto-realização! Temos que "ser alguém na vida, vencer!" Basicamente, precisamos de tanto dinheiro quanto pudermos ganhar.



Isso é exatamente o que nós (autores deste artigo) vínhamos fazendo por muitos e muitos anos.



Como desculpa para todas as nossas decisões e ações, essas necessidades se encaixavam muito bem. E é certamente muito mais fácil ficar na zona de conforto, protegido por antigas defesas como "é assim que o sistema é; nós somos demasiado pequenos e eles são gigantes governando o mundo com uma mão invisível".



E... não fazemos nada. Talvez separemos o lixo "seco" do "orgânico", talvez (e ainda é muito raro, meu Deus do céu) evitamos as sacolas plásticas do supermercado porque não é bom para o meio ambiente. E nossa parte está feita. Ponto.



Nós literalmente exteriorizamos os impactos e as conseqüências de nossas ações e acabamos sendo imensamente similares às corporações e instituições -eles- que estamos culpando por todo a degradação ambiental, social e espiritual. Vegetamos, cegos, em apatia.



Mas, felizmente, ELES dependem de ... nós.



Eles, as corporações, governos, igrejas, bancos não existem sem nós, consumidores, eleitores e contribuintes, crentes, empregados, etc. A Monsanto (a empresa que quer controlar todas as sementes deste Planeta e envenenar cada fruto ou planta existente com seu RoundUp) não existiria se os clientes não comprassem seus produtos. Nós não comeríamos organismos geneticamente modificados (GM), se plantássemos a nossa comida ou comprássemos de agricultores orgânicos locais. Os bancos não cobrariam taxas de juros ridículas sobre empréstimos, se não houvesse cliente solicitando empréstimo. Simples assim.


Tudo isso quer dizer que, hoje, a esperança de recobrar a dignidade humana depende, em primeiro lugar, em nós mesmos, os humanos e, como um efeito colateral necessário, recuperar do equilíbrio ecológico da Terra.



Mas como? O que deve cada um de nós fazer? Nenhuma idéia sobre alternativas?



Bem, protestar poderia ser uma abordagem. Mas talvez sintamos que seja inócuo protestar contra eles. Eles são muito grandes - eu concordo - e eles são uma espécie de "nós", já que fundamentalmente precisam de nossa energia para sobreviver. Seria, então, muito contraditório e infantil protestar contra o "nós" mesmos. Assim, parece ser muito mais inteligente percorrer os caminhos da aprendizagem, do planejamento, da mudança, da ação, mas sempre seguindo a comunicação não violenta. Praticar o silêncio em vez da luta, positividade em vez de raiva, ação para substituir a apatia de nossas vidas.



Com relação a eles, podemos começar apenas parando de alimentar e seus bolsos e esvaziando seus escritórios. Desaparecer dos supermercados, começar a procurar uma ocupação diferente (há vida lá fora!), sair caminhando para longe do posto de gasolina, dirigir muito menos, investir a nossa preciosa economias em coisas com energia solar e fazer esmaecer os contratos com as empresas de energia elétrica, etc . Silenciosamente, com os nossos familiares, vizinhos e amigos, construir um novo estilo de vida!



Mas e sobre comida, casa (hipoteca), carro, educação, informática, saúde, ar-condicionado, seguros, entretenimento, socialização, férias, aposentadoria, carreira, auto-realização? Tudo o que nos foi tão visceralmente ensinado a procurar desde sempre?



Há vida lá fora. Há incontáveis alternativas para se viver e, aquelas que incluem verdadeira liberdade começa com independência alimentar e saúde. Não se pode comprar isso. Mas construir. E não há tampouco receita, mas sim, responsabilidade pela própria vida, busca de conhecimento e bons princípios. Falamos sobre conhecimento holístico, sabedoria, coragem e uma grande ajuda: A Natureza!



Gostaríamos imensamente de evitar debates desagradáveis (para alguns) ​​sobre os sistema de vida atuais baseados em petróleo barato (e finito), em sociedades e estilos de vida de consumo. Mas tudo isso, em nossa opinião, tem que ser discutido mesmo quando - compreensivelmente - alguns crêem ter "nada há ver" com estes aspectos.



Pelo menos, nos sentimos responsáveis ​​em compartilhar a oportunidade de trazer cada vez mais consciência sobre a história não contada das nossas próprias vidas, mascarada por meios convencionais e pelas instituições dominantes contemporâneas.



O que cada um de nós vai fazer com essas informações é, de fato, do livre arbítrio - um dos melhores presentes recebidos pela humanidade - de cada indivíduo. Mas vamos sempre lembrar que haverá impactos para cada ação que tomamos, Incluindo - e talvez principalmente - negligenciar o nosso próprio conhecimento.



Então, o que de fato resta para cada um de nós é uma grande variedade de escolhas.



Nós podemos escolher!



Todo esse debate anterior foi exclusivamente destinado a pavimentar o caminho do encorajamento àqueles a procura de alternativas, seja para aumentar a felicidade ou se preparar para uma nova era, sem combustíveis fósseis baratos - que na verdade já começou.




Alternativas. Uma Revolução Silenciosa.

Ao longo de nossa jornada recente, uma incrível variedade de novos conceitos e idéias foram descortinadas para nós. Queremos compartilhar a parte positiva de tudo isso, que são principalmente as alternativas que encontramos e até nos apaixonamos, podemos dizer. Vemos a existência de uma nova, baseada na cooperação em vez da competição e nos sentimos como sendo - junto com toda a humanidade imbuída de boa vontade - aqueles responsáveis por ajudar na pavimentação do caminho para tal era.



Em um próximo post, queremos compartilhar uma das grandes alternativas para a vida, com a qual entramos em contato na Tailândia - um país muito especial, por sinal. É chamado de Permacultura, termo que foi cunhado pelos Australianos Bill Mollison e David Holmgren, no final dos anos 70. O verbete é a contração de agricultura permanente ou cultura permanente, simplesmente. Embora o nome inclui agricultura, é um conceito holístico, que diz respeito a pessoas que vivem em cidades, subúrbios ou em áreas rurais.



Achamos que Permacultura é um estilo de vida, mas há uma série de outras definições para ela. É uma abordagem holística da vida e ajuda pessoas e comunidades locais a viver com liberdade, autonomia e auto-suficiência, tendo como bases para isso os conhecimentos ancestrais e modernos, o respeito irrestrito pelo Ser Humano, pela Natureza, a divisão de excedentes. Além destes princípios, é fundamental retomada da responsabilidade dos humanos pelas próprias vidas, evitando a "delegação" para sistemas falhos, incorretos e altamente dependentes de combustíveis fósseis finitos.



E há algo de muito encorajador em tudo isso: temos visto e trabalhado em muitos projetos de permacultura, como voluntários, e descobrimos que existem milhões de pessoas que já vivem a Permacultura em todo o planeta!



Tudo isso faz parte de uma grande mudança na humanidade. Vem sendo chamada de A Revolução Silenciosa. Boca a boca, projeto a projeto, o mundo está mudando. E para melhor! Só não espere ouvir muito sobre isso nos meios de comunicações tradicionais, ainda afogado no antiquado mundo da indústria do Petróleo e associados.



Esperamos poder em breve publicar o post sobre permacultura, um assunto fascinante, com certeza. De qualquer forma, você pode procurar o tema na internet e vai encontrar publicações fantásticas.



Enfim, o aquecimento global não é uma falácia. O grande sistema de vida da Terra está perigosamente ameaçado. Entretanto, em dois anos numa jornada ambiental de volta ao mundo, concluímos que a catástrofe mais grave e iminente é o caos psicológico e social em que, aceleradamente, mergulha a Humanidade, vítima de si mesma.



Entretanto, há muitas alternativas para reverter ou minimizar o colapso total da vida na Terra, bem como para recuperar a dignidade social e a Paz de Espírito. Não obstante, qualquer ação neste sentido deve obrigatoriamente promover quebra completa dos paradigmas do crescimento econômico infinito num Planeta que é finito, encerrar a dependência de energias não-renováveis e principalmente - diretamente ligado a tudo isso - mudança radical do estilo de vida de cada indivíduo - hoje baseado em consumo - para modelos baseados em auto-suficiência e baixíssimo impacto. Uma das grandes alternativas, já testada e em plena disseminação no mundo, é a Permacultura.



Esperamos que este texto tenha agregado, ao amigo leitor, boas informações e encorajamento.



Como de costume, comentários, críticas ou qualquer palavra sobre as nossas postagens são realmente bem-vindos!



Francis e Raquel





(1) filme Piratas do Vale do Silício, de Martyn Burke



** Para saber mais sobre o erros do calendário Gregoriano e como passar a utilizar calendários naturais, procure por "calendário das 13 luas" ou " lei do tempo". O escritor mais conhecido sobre o assunto é José Argüelles.  Leia: Time and the Technosphere: The Law of Time in Human Affairs. Inner Traditions/Bear & Company. (2002)

2 comments:

  1. OK! EU li! No aguardo pela continuação...Só vou conseguir discutir esse texto com você bebendo cerveja. Mas concordo com 98% do que vc escreveu.

    ReplyDelete
  2. Se fica viajando de avião pelo mundo, ai não ha jeito, as emissões de CO2 de voces ultrapassam as emissões dos que ficam um so lugares. ;)

    To aproveitando para deixar um resumo de algumas ideas, que gostaria que fizesse parte do debate sobre o aquecimento global.

    Minha opinião e que sim e possível ajudar a natureza a achar novo ponto de equilibro para o nosso eco-sistema.

    To simplificando o problema para tentar achar idea de soluções, ta ?

    Um dos maior problema que o volume das aguas nos oceanos vai aumentando ( dilatação termica + gelos que derretendo), no caso a solução mais simple em qual pensei e que poderia armazenar o excesso de agua em outros locais. Poderia aproveitar a criar grande reservatórios aonde a agua esta faltando, poderia trazer agua nas regiões desérticas do planeta (no deserto do gobi ou do sahara, sei la), encher por exemplo o mar Cáspio (que ja ta a quase 100m em baixo do nivel do mar) e/ou armazenar agua no Antartica aonde o gelo nunca vai derreter.

    Nao e suficiente, criar local para armazenar agua, também teria que diminuir o excesso de CO2 na atmosfera. O problema e que não existe nenhum mecanismo para compensar as emissões de CO2, se queremos inverter a tendência atual e necessário captar o CO2, pelo quando nada melhor e a fotosintesse das plantas para esse trabalho, no caso pensei que poderia abrir grande fazenda nos oceanos, para criar algas. Uma parte das algas poderiam ser aproveitado para gerar uma renda e financiar o projetos (comida, combustível, etc....), outras parte para ser armazenadas no lugares donde vem o carvão e petróleo, em baixo da terra.

    Se gostou, pode compartilhar a vontade o que escrevi aqui.

    ReplyDelete